sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Acorda, vem ver a Lua...

 "Seu pai, todos os dias à noite, assim que voltava do trabalho, a colocava na rede do lado de fora da casa e deitava-se junto a ela. Cantarolava canções de ninar, contava histórias de príncipes encantados, que encontravam lindas princesas e viviam juntos em castelos majestosos, após livrarem-se de um vilão qualquer. Conversavam sobre o dia, e ela, mesmo pequenina, já se mostrava bastante esperta e sabia criticar com sabedoria sobre assuntos diversos. As noites preferidas pelos dois eram aquelas onde a lua mostrava-se cheia, e todo o seu esplendor podia ser visto. Ele sempre pedia à pequenina que se lembrasse dele, sempre que avistasse a lua, em qualquer fase, em qualquer situação, pois então os dois, mesmo separados, estariam unidos pela alma, e pelo amor de pai e filha.
  O tempo foi passando, e ele já não a colocava tanto na rede para dormir, pois o trabalho o pressionava. A menina passou a dormir na cama mesmo, mas sempre, antes de se deitar, olhava pela janela aquela que, mesmo sem seus (antes sempre presentes) espectadores, continuava a iluminar a noite. Admirava-a, e lembrava sempre, não apenas de seu pai, mas de todas as pessoas que lhe eram importantes. E só depois de um longo tempo nesse velho ritual, fechava a janela e ia se deitar.
  Deitar-se na rede já tinha se tornado um ato muito raro, mas isso não impedia que a garota continuasse a conversar com seu velho pai. Os assuntos amadureciam junto com ela, e os princípes e castelos se transformavam em botânica e em pequenas noções de física.
  Um dia, o pai recebeu uma proposta de emprego no estado do Pará. E ela continuou no coração do Brasil, mas nunca se sentia solitária, pois toda noite a lembrança de seu pai a confortava, e fazia com que ela se sentisse melhor.E então, a lua se tornou sua companheira, sua amiga, sua confidente. E, mesmo com seu pai tão distante por tantos quilômetros de terras; mesmo que ela só pudesse ver seu pai a cada quinze dias, ou às vezes a cada mês, ela nunca deixou de falar com ele. Pois os dois olhavam para a mesma lua, e depositavam nela toda e qualquer conversa, confidência ou segredo que poderiam ter. E foi a Lua que os uniu para sempre..."



... E, mesmo hoje, às vezes ainda me pego conversando com meu velho pai sob a luz do luar.




Dedicado a: Jorge Radif Rassi.

By: Zoza, a louca - E viva os loucos que inventaram o amor!

Um comentário:

  1. Hum... Escrevendo cada vez melhor hein.
    Ficou otimo!
    \o/

    E viva os loucos! AIUHEAIUEDHA.
    Te amo.

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